sábado, 23 de julho de 2016

Obra de Sigmund Freud

A psicanálise, que surgiu a partir da obra de Sigmund Freud, é bastante complexa e difícil de ser explicada em poucas palavras. Mas tentarei, na medida do possível, explicar os diferentes tipos de pessoas que encontramos por aí através do conceito de estrutura e mecanismos de defesa.


Poderíamos definir a personalidade, na psicanálise, de várias formas. Aqui, vou dizer sobre as diferenças individuais, principalmente com as contribuições feitas pelo psicanalista francês Jacques Lacan.


A partir do Complexo de Édipo, a psique é estruturada de determinado modo. Cada estrutura exclui a possibilidade de outra. Ou seja, um sujeito que se encontra em uma estrutura nunca pulará para outra estrutura nessa vida.


Temos, então, a partir do Édipo, 3 grandes estruturas:





No pensamento da psicanálise, qualquer um de nós pode ser classificado em um destes três tipos de personalidade. Cada um está dentro de uma determinada estrutura e sempre estará dentro desta estrutura.


O sofrimento que leva as pessoas a buscarem a psicologia clínica ou a psicanálise é a base para este sistema de pensamento. Como se vê, as três estruturas são muito ligadas à ideia de doença psíquica. E qual é a diferença entre a doença e a normalidade? Para Freud, a única diferença é de grau. Uns apresentarão mais sintomas, e, com isso, mais sofrimento. Mas, em última análise, pode-ser classificar cada pessoa em uma determina estrutura.


Cada estrutura apresenta subdivisões:


A psicose se divide em: Esquizofrenia, Autismo e Paranóia.


A neurose se divide em: Neurose Obsessiva e Histeria.


A perversão engloba algumas formas de manifestação, mas é não é dividida. Entre estas formas, nota-se como exemplo o fetichismo.


Repito, a noção de que cada indivíduo “pertence” à uma estrutura – a partir do Complexo de Édipo – é fundamental para a compreensão da psicanálise, em geral, e da teoria lacaniana de sujeito, em particular.


Se um sujeito é neurótico ele nunca surtará (terá um surto psicótico), assim como é praticamente impossível que um perverso tenha a culpa de um obsessivo.


Cada estrutura exclui a possibilidade da existência da outra. A psique é do jeito que é. E mesmo com a análise, não é possível modificar a nossa estrutura.


Veja no quadro abaixo as 3 estruturas e o mecanismo de defesa de cada uma delas:




Em outras palavras, em cada estrutura há um modo – inconsciente – de lidar com o sofrimento provocado pelo Complexo de Édipo. Este “modo de lidar” é o que se chama mecanismo de defesa.


Na psicose entramos três sub-divisões: paranoia, autismo e esquizofrenia. O mecanismo de defesa é a foraclusão.


O psicótico encontra fora o que exclui dentro, ele fora-inclui, inclui fora o que, na neurose representa a dinâmica do recalque. Em outras palavras, na psicose o problema é encontrado fora, o problema está sempre fora, nas outras pessoas.


Na paranoia é o outro que persegue. No autismo é o outro que (quase) não existe. Na esquizofrenia, como é o outro? O outro pode aparecer como um surto, estranho-bizarro como um monstro, um ET ou Napoleão Bonaparte. Na esquizofrenia a dissociação psíquica é o mais evidente.


Uma das características da paranóia consiste no fato de que nesta estrutura os próprios pacientes possuem, de acordo com Freud, a peculiaridade de revelar (de forma distorcida) exatamente aquelas coisas que outros neuróticos mantêm escondidas como um segredo.



A neurose possui duas sub-divisões: a histeria e a neurose obsessiva. O mecanismo de defesa é o recalque ou repressão.


Na neurose, a manutenção do conteúdo problemático como segredo é o que chamamos recalque ou repressão. O paciente neurótico esconde de si mesmo o problema, o sintoma ou a dificuldade que o psicótico encontra fora de si.



Ou seja, na neurose há uma cisão da psique. Alguns conteúdos ficam recalcados, escondidos, em segredo e causa sofrimento nos sintomas dos quais a pessoa reclama.



Na histeria, a reclamação dá voltas e voltas sobre o problema. É como se pessoa nunca conseguisse chegar ao ponto sobre o qual quer falar mesmo. O seu desejo é sempre insatisfeito, como se a pessoa procurasse alguma coisa (seja um objeto, seja uma relação amorosa) para a satisfazer – mas nunca a satisfação aparece. A reclamação é sem fim.



Na neurose obsessiva, há também voltas e voltas ao redor do problema. Mas na neurose obsessiva o que notamos mais frequentemente é a tentativa de organização, de organizar as coisas ao redor para tentar não pensar no que é, realmente, o problema principal.



E, finalmente, na estrutura perversa, há o mecanismo de defesa da denegação.



Podemos entender a perversão e a denegação com a seguinte citação do texto de Sigmund Freud, intitulado “Fetichismo”:



“Nos últimos anos tive oportunidade de estudar analiticamente certo número de homens cuja escolha objetal era dominada por um fetiche. Não é preciso esperar que essas pessoas venham à análise por causa de seu fetiche, pois, embora sem dúvida ele seja reconhecido por seus adeptos como uma anormalidade, raramente é sentido por eles como o sintoma de uma doença que se faça acompanhar por sofrimento. Via de regra, mostram-se inteiramente satisfeitos com ele, ou até mesmo louvam o modo pelo qual lhes facilita a vida erótica. Via de regra, portanto, o fetiche aparece na análise como uma descoberta subsidiária”.



O trecho em itálico descreve a relação entre a ideia de anormalidade (de um fetiche) e a sensação por parte do sujeito perverso de que esta anormalidade não é uma doença que traz sofrimento. Ou seja, o sujeito denega, o que, por exemplo, para um neurótico seria motivo de muito sofrimento.



Temos outra forma de entender as estruturas.



Pode-se também dividir as estruturas através da angústia de fundo em cada uma delas. Inclui-se aqui a Depressão por estar relacionada com a Psicose (no que diz respeito ao sintoma, por exemplo, da chamada Psicose maníaco depressiva – hoje transtorno bipolar):


Psicose – Angústia da entrega


Depressão – Angústia da realização


Neurose obsessiva – Angústia da mudança


Histeria – Angústia de permanência


Na psicose, o problema, o sintoma retorna de fora (foraclusão). Por isso, é pouco comum que um psicótico busque análise pois o “inferno são os outros” – não o eu. A angústia é da entrega ao outro.


Na depressão, a questão é com a auto-realização. Há uma ferida narcísica – que não há na psicose – de que o eu não é bom o bastante, nunca bom o bastante…


Na histeria, o desejo nunca permanece, está sempre a mudar…a mudar… A angústia, então, seria de permanecer fixo em um lugar ou em um desejo.


Na neurose obsessiva, seria o contrário: o desejo está sempre morto (como a questão insolúvel do Hamlet – ser ou não ser…), ou seja, não está em movimento, está parado-morto… A angústia seria a angústia de mudar.


A perversão não aparece neste quadro didático. Do mesmo modo que a psicose, a perversão dificilmente aparece no divã. Poder-se-ia dizer que a perversão também denega a angústia… (a angústia, nesse sentido, não existe para o perverso)

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