quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Deixando a Alma Irradiar - Em Sua Vida




Escrito por Deepak Chopra

A influência da consciência elevada é constante e sempre benéfica. Como uma luz quente derretendo uma escultura de gelo, sem se importar que o gelo tenha sido esculpido no formato de um monstro medonho; tudo o que conta é o derretimento. Se você não consegue sentir o calor de sua alma irradiando, ele está sendo bloqueado. A resistência só pode ser atribuída à mente. Esses obstáculos, sendo invisíveis, são difíceis de ser descobertos. Sua mente é hábil em se esconder de si mesma, e seu ego insiste em que a imposição de limites é uma de suas mais importantes tarefas. Portanto, a melhor maneira de observar o que você está fazendo é por meio do corpo. Seu corpo não pode enganar a si mesmo como pode a mente. Ele não tem como negar. Medo e raiva são suas respostas à maioria das ameaças. Quando o corpo registra tais emoções, alguma força exterior está pressionando seus limites.

O medo é fisicamente debilitante, e quando se transforma em terror, ele paralisa. O medo é expresso por uma contração no estômago, paralisia de alguns músculos, frio, palidez, tonteira, fraqueza e aperto no peito. A raiva é registrada por calor e rubor na pele, tensão muscular, aperto no maxilar, respiração rápida e irregular, ou ofegante, aceleração dos batimentos cardíacos e um estrondo nos ouvidos.

Esses são sinais inconfundíveis, mas a mente pode ignorá-los também. Repare a frequência com que as pessoas dizem “tudo bem, estou ótimo” quando seu corpo está demonstrando claramente o contrário. Você precisa confiar nas sugestões que seu corpo dá, mesmo quando sua mente está dizendo o contrário. A confiança começa por reconhecer a assinatura de cada emoção. Cada uma é uma marca à qual você continua resistindo. Alguma experiência está provocando estresse e isso acontece porque em vez de fluir através de você, essa experiência encontrou uma barreira. Talvez você não consiga ver o que está acontecendo, mas seu corpo pode sentir. Sentir é o primeiro passo para demolir barreiras e fazer com que elas não sejam mais necessárias.

É útil, portanto, explorarmos melhor esses fatores físicos. Quando dois sentimentos são relacionados, como raiva e hostilidade, ou tristeza e depressão, dediquei à emoção primária uma explicação mais detalhada.

Humilhação se parece com medo, causando fraqueza, mas não frio. O rosto enrubesce e a pele esquenta. Você se encolhe e se sente menor. O medo extremo faz com que você queira fugir. A humilhação faz com que você queira desaparecer. A humilhação fica impregnada no corpo e pode ser detonada pela mais pálida referência ao passado. Alguém que foi severamente humilhado, especialmente na infância, demonstra uma personalidade desatenta, indiferente, lânguida, irresponsável e extremamente tímida; o corpo fica cronicamente fraco e desamparado.

Embaraço é humilhação branda. Apresenta os mesmos sinais físicos, mas passa com maior rapidez.

Frustração é como raiva, porém mais comprimida. É como se seu corpo quisesse ficar zangado, mas não encontrasse o botão. Os movimentos ficam rígidos, outro sinal de que a saída está bloqueada. Frustração também pode ser a combinação de raiva com negação, em cuja situação você experimenta sinais de rejeição – olhar desviado, discurso curto e rápido, dar de ombros, tensão nos músculos do maxilar, respiração cansada. Em outras palavras, os verdadeiros sentimentos da pessoa estão estilhaçados. Algumas pessoas mostram sinais de raiva, como incapacidade de permanecer sentadas. Nem toda frustração está associada à raiva, mas mesmo quando alguém reclama estar frustrado sexualmente, por exemplo, irritação e raiva raramente se encontram distantes.

Culpa produz sentimento agitado, como ser preso em uma armadilha e querer desesperadamente escapar. Você se sente confinado ou sufocado, a respiração fica difícil. O peito se aperta e parece querer explodir para liberar a culpa enclausurada como se estivesse presa fisicamente. Dizemos que a culpa corrói, o que o corpo pode registrar como uma pressão crônica sobre o coração.

Vergonha é outro sentimento quente, provocando rubor no rosto e esquentamento na pele. Mas também ocorre uma sensação de entorpecimento interior que pode parecer fria e vazia. Como a humilhação, a vergonha o faz sentir-se diminuído; você se encolhe e deseja desaparecer. A vergonha está relacionada à culpa, mas parece mais um peso morto, enquanto a culpa é uma besta selvagem querendo estourar para fora de você.

Ansiedade é medo crônico, é uma emoção que enfraquece o corpo. Os sinais mais agudos de medo podem não estar presentes porque você cresceu acostumado a eles; seu corpo adaptou-se. Porém o corpo não pode adaptar-se completamente., e então o medo se extravasa por sinais, como a irritação, ausência de autocontrole, entorpecimento e insônia. O corpo pode ficar lânguido ou inquieto, reações que parecem opostas. Mas quando a ansiedade persiste por semanas ou meses, os sintomas têm tempo de mudar e se adaptar às circunstâncias individuais de cada pessoa. Em todos os casos, porém, se você se deitar quieto e mergulhar em seu interior, o medo estará presente logo abaixo da superfície.

Depressão se revela fria e pesada, letárgica e com baixa energia. Existem muitas variedades de depressão porque, assim como a ansiedade crônica, essa condição pode durar semanas, messes ou até mesmo anos. Seu corpo tem tempo de construir suas próprias e exclusivas defesas. Por exemplo, alguém que esteja deprimido se sente tipicamente cansado, mas nem sempre: tipos hiperativos podem agir forçando uma ação energética, apesar da depressão. Quando aliada a uma sensação de desesperança, a depressão pode deixá-lo indiferente e entorpecido; por que se mexer se a situação já é desanimadora para começar? Pessoas deprimidas também costumam se queixar de serem frias o tempo todo. Tropeçam fisicamente quando confrontadas com desafios, como se ficassem confusas e sem ação. Muita gente refuga quando fica deprimida, recusando-se a reagir; outras perdem toda a motivação. Seus corpos demonstram essas atitudes pela forma de se moverem hesitante, rígida e vagarosamente.

Tristeza é como depressão, porém ainda mais fria e dormente. O corpo pode parecer tão pesado e sem energia que a pessoa se sente morta viva.

Hostilidade é como raiva, mas não precisa de gatilho para entrar em atividade. Há sempre insinuações de indignação presente, combinada a um tipo de vigilância mantida em ponto de ebulição, alerta ao menor motivo para uma explosão de fúria. O corpo fica apertado, tenso e pronto para ação.

Arrogância é raiva disfarçada, como a hostilidade, e também é crônica. A pessoa vê sinais disso o tempo todo e só precisa do mais leve incentivo para começar a agir de forma orgulhosa, arbitrária e distante. A arrogância, porém, esconde sua raiva essencial em um nível mais profundo que a hostilidade, tão profundo que essa emoção normalmente quente se torna fria. Tornando-se comprimida e mantendo o controle, uma pessoa arrogante não explode; em vez disso, ela libera uma dose de fúria gelada, marcada por maxilares apertados, o olhar frio e expressões faciais rígidas.

Quando você detecta essas características físicas em seu próprio corpo, o primeiro passo é confiar nelas. O segundo é examinar sua motivação. Limites o levam a agir de maneiras que você não está plenamente consciente. Frequentemente, seu ego tem uma postura própria e está sempre tentando impô-la, mesmo que seu corpo não esteja disposto a aceitá-la.

Aqui estão alguns exemplos de posturas assumidas pelo ego:

Importância Pessoal é uma estratégia global para parecer maior, mais forte, mais no comendo ou no controle. As reações físicas tendem a ser arrogância e outros sinais de raiva controlada. Sinais de frustração indicam que nunca nada está bom o suficiente. O corpo costuma ficar rígido, o pescoço empinado e a cabeça erguida; o peito pode ficar atirado para a frente ou expandido. Junto a essas características, pessoas que se julgam importantes mostram um comportamento típico de impaciência, beligerância, indiferença e frieza. Quando desafiados, falam com ênfase, em tom categórico; quando superados, retraem-se e empacam.

Irritabilidade, ressentir-se ou ofender-se com facilidade é a estratégia do ego para lidar com o medo e a insegurança. A pessoa tenta projetar uma autoimagem mais forte do que é na verdade. Consequentemente, as coisas mais inofensivas acabam se tornando fortes ameaças ou feridas profundas. Existem níveis dessa estratégia, assim como em tudo o que o ego faz. Pessoas avarentas e ranhentas são cronicamente irritadiças e não precisam de gatilho, sentem-se zangadas e insatisfeitas o tempo todo. O egoísmo, que é uma instável projeção do foco em si mesmo, sempre aparece trazendo a sensação de que a pessoa é uma fraude. Portanto, ressentir-se é o modo egoísta de atacar primeiro com a finalidade de não ser descoberto.

Excesso de críticas e perfeccionismo são outra variação de atacar primeiro, antes de ser atacado por alguém. Nesse caso, o crítico teme ser visto como imperfeito. Há um sentimento oculto de ser errado ou incompleto. A sensação de nunca ser bom o suficiente vem à tona: “Nada pode estar certo com você se eu não estiver certo”. Quando nosso ego adota essa postura, ele acredita que está nos protegendo contra a ansiedade e a humilhação. Os perfeccionistas expõem critérios impossíveis, de forma que nada chega a ficar bom o suficiente, provando, dessa maneira, que estão certos em sentir que nunca conseguirão alcançar o que desejam. Existe também, obviamente, um elemento de raiva aqui incluso, visto que o crítico perfeccionista ataca as vítimas enquanto afirma; “Não é nada pessoal”. É sempre pessoal – para eles.

Dependência é a forma de o ego se fingir desamparado para evitar o próprio medo. Pessoas dependentes costumam se agarrar e agir de forma carente. Recusam-se a assumir responsabilidade. Tomam como modelo de perfeição pessoas mais fortes e tentam agarrar-se a elas e não as soltarem mais (venerando-as como heróis, pelo menos em fantasia). As consequências físicas decorrentes são ansiedade, depressão, humilhação. Quando estão felizes, são calorosas; adoram se amadas. Quando não têm ninguém em quem confiar, porém, tornam-se frias, distantes e deprimidas. Há sempre uma sensação de falta de clareza acerca delas porque não sabem como conseguir o que querem. Dependem de outra pessoa para fazer isso por elas, como crianças. O corpo irá sempre mostrar sinais infantis e imaturos, como fragilidade, descoordenação e predisposição a machucar-se e contrair doenças.

Competitividade, ambição desmedida, comportar-se de forma autoritária e arrogante são estratégias comuns do ego que externaliza satisfação e o torna dependente da vitória. O sentimento oculto é difícil de ser interpretado. Pode ser raiva ou medo, ou qualquer outra coisa, já que a pessoa se encontra tão focada no resultado externo que não há janelas voltadas para o interior. Os sinais físicos também são difíceis de ler porque pessoas competitivas exercem esforços constantes para se manterem enérgicas, positivas e decididas. No entanto, são fáceis de ser interpretadas quando fracassam, pois a reação é de raiva, frustração e depressão. Em vez de cuidar desses sentimentos, o novo vencedor espera até que desapareçam, enquanto recarrega suas baterias antes de voltar ao topo novamente. Mas não importa o quão exuberante e energizadas possam parecer, pessoas com competitividade obsessiva sabem secretamente o preço que pagam para continuarem sendo sempre “número um”. A subida até o topo as excita, mas sentem-se exaustas e inseguras assim que chegam lá, ansiosas sobre o que o amanhã trará – que inevitavelmente será mais novos jovens competidores como eles. Com o tempo, os vencedores podem acabar aturdidos e confusos. Construíram tantas barreiras internas para proteger seus sentimentos “fracos” – como poderiam chamá-los – que, quando finalmente decidiram olhar para dentro de si mesmos, não tinham ideia de como se mover naquele espaço.

Fracasso, resignação e passividade são as estratégias opostas às do vencedor. O ego, nunca se expondo a competições ou se comprometendo inteiramente, prefere observar à margem. Ele deixa a vida passar enquanto observa. A resposta física não é difícil de se perceber. Por ser lânguido, esse grupo apresenta sinais de ansiedade, um medo oculto crônico que os torna frios, preguiçosos, hesitantes, indefesos e vulneráveis. Costumam ter ombros caídos, como se tivessem sofrido uma derrota. O peito fica afundado e o corpo, inclinado para a frente. Costumam desviar os olhos ou manter o olhar no chão. Transmitem uma sensação geral de que não querem ser vistos ou notados, por isso seus corpos sempre parecem se encolher. A pessoa pode inclusive estar mantendo um emprego e sustentando a família, mas, por dentro, a sensação de fracasso é crônica; isso a faz sentir-se pequena, fraca e imatura, como se misteriosamente tivesse fracassado em crescer.

Para que ocorra a expansão da consciência, você precisa enxergar para além dessas posturas do ego e aprender a ser honesto acerca de suas motivações. Existe um tipo de negociação ininterrupta que acontece entre o ego e o corpo. Quando você fica consciente do que seu corpo está tentando lha dizer, o ego não consegue mais reforçar sua postura. Você tem prova física de que está bloqueando o fluxo da experiência, que deveria ser sem resistência, despreocupada e espontânea. Portanto, quando você se vir caindo novamente em uma estratégia fixa do ego, considere-a pelo que ela é e pare. Você precisa se perceber no exato momento em que começa a agir, salientando sua importância pessoal, dependência ou arrogância. Seu ego acionará o comportamento pré-arranjado automaticamente; assim como os músculos, comportamentos também têm memória. Uma vez engatilhados – mesmo que ligeiramente –, eles entram em ação.

Só pelo fato de estar consciente, você pode checar o seu corpo. Sempre haverá sinal de alguma emoção oculta. Sinta essa emoção, esteja com ela. O contato permite à sensação física dissipar-se naturalmente; seu desconforto diminui à medida que seu corpo libera a energia estagnada ou distorcida à qual você tem se apegado. Somente dessa forma você consegue romper suas defesas. A menos que esteja consciente, a mudança é impossível. Mas quando você traz consciência ao seu corpo, pode começar a ficar indefeso. A realidade passa a ser mais aceitável do jeito como é, não como você tenta forçá-la a ser.

Congratule-se por estar disposto a efetuar uma mudança. A consciência é capaz de vencer os limites mais restritos porque todo limite é composto por nada além de consciência que decidiu contrair-se em vez de se expandir. Parabenize também seu corpo pela honestidade. Ele tem deixado sua alma irradiar luz quando sua mente se recusou a fazê-lo. Você está fazendo uma conexão com seu corpo e cada conexão, por menor que seja, o deixa mais próximo de sua alma como o nível de vida em que você pode residir permanentemente e em total tranquilidade.

Deepak Chopra – do livro “Reinventado o Corpo, Reanimando a Alma”, Ed. Rocco.

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